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terça-feira, 27 de setembro de 2011

A violência nossa de cada dia


Esse título esta longe de ser inédito, eu mesma já devo tê-lo lido nos últimos tempos. Tempos que de remotos não têm nada. Até porque as cenas insólitas parecem repetir-se.

Um garoto de 10 anos atira contra a professora, sai da sala e se dá um tiro na cabeça. Morre.

O enredo de uma tragédia ou de um padrão de incivilidade que a sociedade começa a se acostumar no insólito, este sim, cotidiano das escolas? Brasileiras? Não, de todo o mundo. Que a escola sempre expressou a soberba, a miséria e a resistência da humanidade isso é verdade. O que vem mudando é que a equação está pendendo mais para o lado da barbárie.

O morto não pode ser ouvido. Ficamos com hipóteses daqueles que acompanharam os últimos momentos antes de que a brutalidade tivesse início."Ele só queria assustar a professora", disse um dos alunos da mesma sala em que o morto estudava. "Levar arma para escola aumenta o ibope do garoto", disse um outro.

Assustar professora. Por que desta forma? Aqueles inofensivos cocozinhos, feitos de argila, depositados sobre a cadeira, as tachinhas, as falsas baratas e os ratos feitos de palhinha estariam presos a um passado que nem era inocente, mas agora parece?

Por que a posse de objetos como: um celular, um tablet, uma arma ou um carro estão formando uma espécie de novo padrão de dignidade. Possibilidade que aumenta em muito a chance da cena se repetir. Que pais e que mães conversam com seus filhos sobre o que de fato é dignidade? O que é ser humano? Por favor, não venham com a lorota de que a TV é um algoz impune. A TV continua, como estão dizendo muitos, sendo tão frágil quanto sempre foi, basta desligá-la. Mas este também não é um caminho saudável porque não protege. É preciso discutir a velha e boa temática do ter e do ser, que já virou até título de filme.

A imprensa carcomida de sempre sai-se com manchetes do gênero: Polícia vai investigar possíveis motivos. O que é isso? Há motivo para alguém atirar no outro?

Quando um professora de origem grega, que assinou meu estágio realizado numa escola pública estadual da Zona Leste de São Paulo, foi assassinada numa outra escola também pública só que municipal, muitos professores, acredite, disseram que ela rigorosa. Agora então é o caso de matarmos os rigorosos? E o que significava o rigor daquela professora? Corrigir seus alunos. Ela até mesmo dispunha de dicionários para que eles se habituassem a buscar as palavras que desconheciam. Não, ela não era rigorosa. Ela era professora. Está morta há 12 anos.

Ninguém quer gastar tempo conversando e discutindo o que realmente importa, isso me lembra um livro de Leon Trotsky, A Nossa moral e a deles; é lógico que o texto tem um caráter mais amplo que educar crianças e jovens adultos, ou melhor, quer reeducar a todos no sentido de que o conhecimento irrestrito e tomado conscientemente através de uma prática pode transformar todas as morais em uma verdadeira ética. Mas, enfim, tem significado de expressar o que o capitalismo é capaz de fazer para aniquilar tudo que existe de Humano.

Recentemente, fui informada numa conversa ou numa leitura de notinhas, porque o assunto importante é sempre colocado numa notinha na página par num canto desprezível, que muitos jogos eletrônicos estão inserindo como alvo policiais e professores. É lógico que isso jamais fará com que qualquer pessoa, jovem ou velha, saudável mentalmente saia por aí disparando a esmo em figuras que se enquadrem no perfil. E esse é o ponto. Estamos deixando de ser uma sociedade saudável mentalmente. E se não estamos saudáveis discursos faceis de autopromoção e merecimento passam a dominar.

Em 2010, durante o Congresso do Sinpeem, assisti a uma palestra do Professor Doutor Ives de La Taille sobre como a violência tem funcionado como forma de visibilidade. No caso, Ivés, que também é professor, expressou mais a violência da truculência física, mas pode estender também para a violência da degradação não-física, que ninguém que está fora da sala de aula pode compreender. Ninguém. Essa degradação da dignidade para nós é a feição de dignidade para eles. Ou para fazer uma analogia, A nossa moral e a deles. Preservar, fortalecer e superar ou degradar e humilhar. São essas duas frentes em que vamos nos resumir dentro da nossa condição de classe trabalhadora que deveria ser única com suas complexidades e contradições, mas coesa frente ao que nos degrada, no fundo, a todos.

Quero conservar este sorriso que trazia ainda na tenra idade, olhando para minha adorável vó até mesmo para servir de resistência ao que nos espera. Quisera que todos pudessem ter uma foto também para recordar, porque precisamos resistir. Já que não será possível esperar que a moral deles prevaleça.

É isso.

Gislene Bosnich

terça-feira, 5 de julho de 2011

Destruindo a aura de purificação e saúde em que o esporte está falsamente envolvido ou Cielo sim, Daine: não!

Inicialmente quero deixar muitíssimo explícito que esse assunto longe de ter um direcionamento inédito foi aventado por muitos internautas leitores do Estadão on line. Assim, como também deve ter havido em outro canais. Mas isso não torna minha opinião, em certa medida compartilhada e em outra estendida, sem relevância.
O que significa o esporte na atualidade? Uma competição como foi outrora? Quem ganha com competição? O povo está envolvido no esporte? Qual o nível deste acesso?
Discutir o doping do nadador César Cielo é discutir toda a trajetória de captação do esporte pelo capitalismo. E não vou entrar em juízo de valor sobre se a substância alterou ou não seu desempenho, porque para mim todas elas alteram há muito tempo; assim como há muito tempo o treinamento deixou de ser um cerne do desempenho atlético. (Isso também não é novidade e é evidente, principalmente nos jogadores de futebol que do nada aparecem com massa muscular). O caso é que ao criticar o esporte atual e a panaceia de que ele é capaz de regenerar crianças e adolescentes e adultos em situação de risco, direto ou indireto à saúde, sou de opinião que qualquer paixão pode libertar. Assim, a literatura, a arte e outras áreas podem prover maravilhas na recuperação de quem quer que seja. Isso, porque a disciplina não é algo militar por excelência - como querem nos fazer crer os que acreditam ser esta a melhor alternativa - e está associada ao encantamento que nos produz aquilo que amamos fazer. Para as crianças e jovens que amam desenhar, o desenho é benéfico a tal ponto que pais e mães ficam preocupados às vezes porque seus filhos não estão saindo de casa como deviam ou estão tendo menos amigos do que deviam. Também fui exemplo de preocupação em pais humildes sobre uma garota que lia muito. "Isso vai afetar a cabeça dela". Não, a literatura não é uma droga nesse sentido, mas ela afeta a cabeça, para usar a expressão recorrente em pessoas mais humildes, que entendem a leitura como uma arma que se volta contra o seduzido. Ela não se volta. Ao contrário do esporte que está destruindo moral e fisicamente seus "limpos" adeptos. Deixo claro, deste esporte que está associado a alta performance e muitos dólares, euros e libras na conta corrente. A fama, a glória em troca de um corpo-máquina arruínado em pouco tempo. (E não ao esporte amador, que também já sofre com as agruras do capital, mas ainda está mais ileso). É engraçado que ninguém comente porque todos - até os ditos atletas de Deus ou de Cristo - estão apresentando problemas físicos muito cedo em suas carreiras.


Habilidade versus Velocidade

No site do Estadão, até por falta de espaço, não pude desenvolver qualquer raciocínio mas questionei porquê temos tanto interesse em velocidade e tão pouco em habilidade. Não lembro de César Cielo fazendo qualquer pronunciamento sobre o acesso que a natação deveria ter num país como o nosso repleto de litoral e de rios. Fui execrada, e chamada pelos nobres internautas de nomes não de baixo nível (porque não seriam publicados) mas de baixa qualificação. Ou seja, ao invés de querermos que todos tenham acesso à natação, à esgrima, a ginástica olimpíca e a outras modalidades, ficamos apenas fanáticos torcedores de velocitas que longe de desenvolverem a capacidade corporal estão postergando um martírio movido a sabe-se lá que tipo de "remédios e pomadas".



Os esportes coletivos - sem contar o atletismo, cujo a finalidade pode ser questionada pelo alto número de fraturas de muitos esportistas que fazem uso de dieta e pomada e remédios superespecíficos - são mais democráticos quanto a auferir a habilidade e menos a velocidade. Não que ela não tenha importância, mas eu me pergunto: Qual a vantagem de correr 100 metros em menos de 9,5 segundos? Se tudo que gostaríamos era mesmo de poder andar traquilamente. Passear e fazer tudo sem pressa. É uma contradição que o ritmo de nossa vida seja um inferno de correria e que ainda por cima queiramos ver esportes que intensificam esse inferno.
Fui acusada de querer promover campeonatos entres os mais lentos. Não é sobre isso que estou me referindo. É sobre política pública, sobre a falsa aura de saúde em que está envolto o esporte como um todo. Sobre habilidade e velocidade. Sobre moral e ética. Porque todos sabem o que estão tomando. E o discurso de que confiei no treinador, desculpem-me, mas só vale para a gente tomar remédio da mão da mãe e do pai (E olhe lá pelo que já tivemos visto recentemente em relações filiais). Fora disso, tudo deve ser questionado no sentido da confiança.
Critérios misteriosos
Agora outro aspecto é por que Cielo, homem branco foi deixado apenas com uma advertência e Daiane dos Santos foi afastada? Mulher e negra. Mas também outras mulheres brancas e homens brancos tiveram muito mais penalização.
São modalidades distintas? Mas os critérios são claros!!! Se a substância altera o comportamento orgânico para um, também o fará para outro. Aí parece-me também que longe da resposta simples - e também correta, mas incompleta - sobre homens e mulheres, e brancos e negros, há também muito lobby, inclusive da Federação de Natação. E de tudo que está envolvido em termos de patrocínio pelo mundo.
Como se vê um assunto diminuto em seu reflexo pode nos levar a discutir e a pensar o envolvimento e a dimensão que fatos aparentemente pequenos e isolados têm em nossas vidas.
É isso.
Gislene Bosnich

domingo, 12 de junho de 2011

Fim do bom senso cria mar de legislação para o cotidiano

Não entendeu o título. Eu explico. Aliás, já venho explicando para aqueles que me conhecem.
Daqui a pouco: Bom dia! e licença vão ter que ser definidos por lei. E ai daqueles que não utilizarem as expressões que em época pouco remota seriam apenas sinal de civilização. Assim como insisto em manter a chama do bom tratamento entre humanos, há aqueles que simplesmente se esqueceram que habitam e dividem um mundo repleto de outros iguais a ele.
Serei mais objetiva: se falar bom dia, pedir licença, procurar não errar para não banalizar a desculpa, ficar indiginada porque a calçada - feita para pedestres - está sendo tomada por ciclistas que andam em grande velocidade para nos intimidar são modos ultrapassados - não estou me referindo a crianças que estão aprendendo a andar de bicicleta; então, é melhor parar a leitura. Senão... prossiga.
Há anos tenho para mim tratar-se de um escândalo que médicos e enfermeiros andem com seus uniformes de "autoridade" neste país pouco letrado, como que dizendo que podem tudo. Mas o cúmulo mesmo é estes senhores e senhoras adentrarem restaurantes e compartilhar com todos os micróbios que abundam os hospitais e ambulatórios junto aos demais usuários dos restaurante. Um absurdo. Velhos e novos. Os novos profissionais da saúde têm a indescência de levar até mesmo o estetoscópio (aparelho que mede os batimentos cardíacos).
Eu que moro nas imediações da Santa Casa de São Paulo convivi com estes profissionais durante mais de uma década fazendo uso de sua "autoridade" que por extensão se manifesta no seu uniforme de salva-vidas, o avental branco. Convenhamos não é preciso ser nenhum périto para saber que essa atitude é no mínimo leviana, e que andar de avental é como portar um título que se quer mostrar a todos. Inconsciente ou consciente, a situação é vexatória, porque eles sabem o risco que estão levando para dentro dos restaurantes. Mas agora, finalmente... temos uma lei. Uma lei imbecilizante que normatiza o que deveria ser bom senso.
Assim como é bom senso não ter atitudes demasiadamente íntimas em público, também é de bom senso pedir licença e falar bom dia, boa tarde, boa noite. Estamos cada vez mais nos tornando incivilizados. Quem sabe estejamos regredindo... sem que haja um limite de parada, na barbárie, por exemplo. Não, vamos retroagir de verdade e chegar até a selvageria.
É preciso reverter isso. Antes que vire lei. O bom senso está sendo banido.
É isso.
Gislene Bosnich

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Greve de transportes deve ser compreendida e respeitada

Como Professora de História e também jornalista, assistir a cobertura da greve do setor de transportes, envolvendo os trabalhadores dos ônibus do ABC Paulista e também os ferroviários da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), é uma penúria, porque em nenhum momento a imprensa menciona quais são as reivindicações dos trabalhadores e qual a rentabilidade das empresas em relação ao salário que estes recebem. E ainda, não menciona em quanto cresceu a demanda, a procura por essas modalidades de transportes, ou seja, a relação funcionário/passageiro. Pois é certo que se cresce o número de pessoas/usuários atendidos, precisa crescer também o número de funcionários que os atende. Mas nada disso é informado ao incauto telespectador/espectador/ouvinte/internauta. Porque também este aumento não existe. Em geral, a mesma quantidade de funcionários atende um número cada vez maior de passageiros. O que faz, na prática, desmoronar a qualidade da prestação de serviço, incluindo a manutenção dos trens por mecânicos que trabalham na madrugada, por exemplo. Isso é inevitável, por mais que todos se esforcem.


Confira as reivindicações dos trabalhadores que estão em greve no site da categoria.

Ao contrário, o jornalismo fica dia mais rasteiro, e com predisposição a ser cada vez mais amarelo (de baixa qualidade, na gíria jornalística) porque não ouve, não escuta o outro lado, que são os trabalhadores. Não aponta a problemática. Aí escolhe, a dedo, o usuário - que também é um trabalhador - mais desinformado e mais despolitizado para ser "alvo" da matéria jornalística. Chovem pérolas, como se os grevistas fossem vagabundos. Gente preguiçosa. Ninguém que é "ouvido" pode detalhar a qualidade de nosso transporte e, no caso, dos ônibus e trens, a demora, entre um e outro. (Só o metrô não sofre desse problema do tempo de intervalo!)

O metrô, que faço uso todos os dias, é uma maratona. E aos 40 anos, depois de ter vindo morar no centro, cansada de no início da década de 90 participar e amenizar discussões acaloradas nos vagões, vejo-me novamente colocada no horário de pico do retorno. Para evitar problemas, saio mais de uma hora antes para fazer um trajeto que custa-me 15 minutos. E só agora posso fazer isso. Lá em 1991 não poderia escolher. Como muitas vezes também não podem escolher estes trabalhadores. Nem os que precisam trabalhar nem os que fazem greve. Fazer greve é algo sério que envolve muita discussão. Quem faz greve não a faz para dormir até mais tarde. Precisa ter disposição para conversar com seus pares e discutir item a item.
Também não vi nenhuma matéria, em qualquer cobertura: televisiva, eletrônica ou impressa, expressando o caráter de defesa do transporte público contra as Parcerias Público-Privado (como na linha 4 - Amarela do metrô, aquela da cratera de Pinheiros e das sete mortes) ou a privatização pura e simples, como acompanhamos nas telecomunicações, no setor energético e no minério. PPPs ou privatização, que, na verdade, são investimento de dinheiro público para que a iniciativa privada depois financie o lucro. Financiar o lucro é fácil, perto de investir na construção. É mais ou menos assim: O governo constroi a estrada, ou a reforma, instala telefones públicos e de socorro, implanta sinalização para motoristas e pedestres e depois de tudo pronto e pago: a iniciativa privada passa a cobrar pedágio. Isso é parceria? Tem outro nome: é capitalismo. E dos bons. Ou para ser mais ilustrativa! Você tem uma bicicleta e quer vendê-la. Empresta dinheiro para o comprador que lhe dá o dinheiro de volta pela bicicleta sem que você veja nenhum níquel, ou real. E ainda deixou de ser o proprietário da bicicleta. Ou seja, você fez um mal negócio. A privatização é isso. O governo se desfaz de um patrimônio público e a iniciativa privada o ganha, literalmente.

Então, seria no mínimo desrespeitoso fazer uma cobertura tão mal informada a quem a assiste. Mas é muito pior que isso, porque os interesses são obscuros!!! Os jornais (mídia impressa) trazem um pouco mais de informação, mas também não é muito mais. Sabe-se por exemplo que o vale-refeição de um trabalhador da CPTM é de R$ 4,00. Aliás, para todos os funcionários públicos/celetistas que trabalham em empresas do Estado de São Paulo. Acredito que os funcionários de gabinete não recebam o equivalente a esse valor no seu salário, aqueles funcionários que não são concursados. Tudo isso poderia também ser expresso, mas não é. Cabe a nós ter discernimento sobre mais essa greve.

Outro ponto importante de lembrar que ainda, parece-me, não foi abordado pela imprensa é o caráter da greve. Aí saem pérolas. "Esta greve é política", diz o governo. Toda greve é política. A política não é uma bruxa, é algo que faz parte de nossas vidas. E não é de hoje. Basta ler Aristóteles, o macedônio, professor particular de Alexandre, o Grande. Na Antiguidade.
Todos fazemos política. E a fazemos para sobreviver. Mesmo quem diz que não faz política está fazendo, porque não participar é uma maneira de interferir nas relações de poder de um determinado local, nas relações de patrões/trabalhadores, ou mesmo no interior destas relações. Até mesmo, às vezes, nas brincadeiras mais inofensivas, de crianças, é possível reconhecer a política. Não há escolha entre participar ou não. A escolha é de lado. De que lado se vai ficar considerando, lógico, a correlação de forças. Sozinho ou enfraquecidos diante do inimigo...não mudamos nada.
É isso.
Gislene Bosnich

domingo, 22 de maio de 2011

Estupro é crime e não escândalo sexual

Recentemente, um bambambam (o suprasumo de alguma coisa) do Fundo Monetário Internacional, Strauss Khan, estuprou uma camareira de um hotel em Nova Iorque. Mas a imprensa, imediatamente, está denominando o estupro, que é um crime, como escândalo sexual. Vamos ver se me faço entender. Escândalo sexual é algo de cunho sexual que vem à tona, mas que não traz consigo necessariamente a violência no ato. Já estupro é marcadamente um crime em que um homem força uma relação sexual com uma mulher. Parece que todo mundo sabe diferenciar um escândalo, como foi o do à época Presidente Willian Clinton, o Bill, com a estagiária da Casa Branca, Mônica Lewinski, em que houve relação consensual. Já ...
Gislene Bosnich

Metrô, um direito à civilização ou quando o churrasco da gente diferenciada não tem gente diferenciada






Muitos já escreveram a mesma opinião que vou expressar aqui sobre a existência de uma estação de metrô na esquina da Rua Sergipe com a avenida Angélica, mas o caso é que isso merece mesmo uma reflexão sobre o nosso suposto processo democrático.

Primeiro quero dizer que estive como espectadora desta manifestação muito divertida, e por vezes, até mesmo politizada. O Sindicato dos Metroviários estava lá participando e denunciando a privatização da linha 4 amarela, que é exatamente a do Consórcio que provocou o acidente na estação Pinheiros (recém inaugurada) e da polêmica estação Angélica. E havia todo tipo de pessoa, incluindo eu mesma, mas o povo, a tal gente diferenciada não estava. E é simples saber o porquê, porque esta gente a que se referiu uma das moradoras - agora sem nome, rosto e moral burguesa real (aquela que assume sua tirania contra o povo) - só usará a estação para trabalhar. E aos sábados, àquela hora, a soneca ou o passar roupa com certeza eram as reais atividades. Imagine sair do bairro, gastar duas conduções, uma em alguns casos, para chegar até Higienópolis, num churrasco de gente diferenciada, de gente como são os trabalhadores mais humildes. Até porque trabalhadores também são os muitos que estávamos lá, mas a gente diferenciada a que se refere a senhora é mais pobre.

Veja não se trata de afastar os pobres como diziam os outros, mas mantê-los à distância planejada e sob controle de câmaras e holofotes que se acendem à noite como se quem passasse pelo logradouro fosse astro de TV. Isso porque os pobres trabalham nos escritórios, nos consultórios médicos, como faxineiros e faxineiras, empregadas domésticas. Então, é mentira que a classe média, média-alta não queira conviver com pobre. Quer sim! Mas não quer que ele tem a regalia de chegar de maneira tão civilizada ao local de trabalho. Ele tem que penar. E muito.
Uma das senhoras disse: "Minha empregada toma três conduções, ônibus (ela se lembrou rapidamente do nome do coletivo) e demora mais de uma hora e meia, mas não quer pegar o metrô porque é muito lotado!" E os ônibus são espaços recreativos em que se pode ler, ouvir música em fone próprio e ainda degustar canapés, servidos por cobradores que perderam sua função com o bilhete único. Nem Doroty em Oz poderia supor um mundo tão fascinante.

Seria muito bom que aqueles que realmente trabalham nas imediações da Avenida Angélica pudessem ter ido ao sábado, mas estavam muito mais ocupados em seus afazeres, irrevogáveis no curto prazo que tem, principalmente, em se tratando das mulheres. Seria muito oportuno que os camelôs também estivessem com seus pertences imperdíveis e que houvesse uma barraquinha vendendo chocolates para aquela fominha de quem não tem dinheiro para um lanche. Mas essa gente diferenciada estava cuidando da sua vida com a dignidade de quem trabalha e não assiste a vida passar como a Carolina de Chico Buarque.

Na verdade, o metrô é da gente civilizada e, por isso, diferenciada. Não essa burguesia que usa sacolinha de pano, mas não sai sem seu carro para ir até a esquina do Pão-de-acúçar, ali mesmo na Sergipe com a Angélica. É isso. Gislene Bosnich

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Um pouco de Copa do Mundo


Há tanta polêmica sobre a Copa do Mundo no Brasil e suas possíveis cidades-sedes e aberturas aqui ou acolá (parece tudo definido, mas muda a todo o momento) que o mais importante não é lembrado. E não se trata de ausência de memória, apenas da dinâmica do capitalismo mais elementar.

Para sermos coerentes com a trajetória do esporte no país, o jogo de abertura da Copa deveria ser em São Paulo e deveria ser sobretudo num estádio que está calcado nesta tradição do jogo, o Estádio do Pacaembu. Não é à toa que lá funciona o Museu do Futebol, que sem preconceito algum é um acerto muito grande, porque inspira àqueles que nunca iriam a um museu a fazê-lo e quem sabe se motivar a ir a outros. E também porque motiva pessoas como eu, que não estão animadas com o esporte e no que ele se transformou arrastado pelo desenvolvimento do capitalismo, visitarem um espaço que trabalha todas as formas de percepção físicas numa nova perspectiva de estética e apreciação menos estática.

A Praça Charles Müller que fica em frente ao estádio é a homenagem ao paulistando do Brás, filho de brasileira e escocês, da elite da época, que trouxe ao Brasil, a partir de São paulo o jogo que encantaria multidões, e que nem sempre foi essa turbulência de vaidade, dinheiro e patrocínio.

Em 2011 completam-se 116 anos que Charles Müller que o aristocrata, engenheiro de formação e jogador de futebol e depois árbitro por lazer, trouxe o futebol ao Brasil. O primeiro jogo, consta, ocorreu no Brás.
O estádio é pequeno e seria uma forma de homenagear o esporte e o pioneiro em apresentá-lo ao brasileiro. Os ingressos seriam poucos e aí reside o problema. O estádio é seguro e deveríamos parar de creditar ao local maior prestígio que ao espetáculo que ele abriga. O estádio iria ainda fazer aparecer um pouco da cultura indígena tão perdida ao Riacho das pacas, significado do nome Pacaembu.
Parece que a imprensa esqueceu destes detalhes.

É isso.

Gislene Bosnich

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Uma revolução em curso

Boa parte dos alunos, e uns poucos que ainda leem essas postagens no Contra a barbárie, não entende nada do que acontece neste momento nos países do Norte da África e do Oriente. Eles não comentam nem perguntam para os professores, sinal de que não foram sequer fisgados pelas notícias e pela suposta curiosidade em entender o que está acontecendo naqueles países. Os comentários dominantes são sobre: futebol e algumas vezes o lixo do Big Brother. E ao que tudo indica, agora o vídeo da escrivã da Polícia militar que aparece sendo despida por seus "superiores" numa verdadeira demonstração de abuso de poder com assédio sexual. (Isso é tema para outra postagem!)
A população nas ruas, metrô e ônibus, dependendo do percurso, comenta que não tem nada a ver com o que acontece lá. Mas não é verdade. A luta pela democracia, que é o melhor regime de governo quando a sociedade está dividida em classes sociais (trabalhadores e capitalistas) é o mínimo absoluto que se pode pleitear. Por isso, esta luta é uma luta legítima e importantíssima.
Um processo revolucionário (incompleto, mas ainda assim revolucionário e que pode se completar) como aconteceu no Egito pode e está despertando o povo de influência árabe a se manifestar também contra as ditaduras que completam décadas.
A cobertura brasileira sobre esses processos têm sido, como era de se esperar, melidranda e sempre pendendo mais para o lado do ditador que dos manifestantes. Nossa imprensa, subsede do Pentágono (prédio público das forças armadas que expressa o poder dos Estados Unidos) é incapaz de captar o desejo popular da transformação, pelo fim da opressão e da tirania. Em geral, o repórteres enviados para estas coberturas não conseguem se safar de trabalhar para emissoras comprometidas com as transmissões oficiais da Casa Branca.
Recentemente, tivemos um companheiro do PSTU que esteve no Egito e permaneceu lá até o diante seguida à queda de Hosni Mubarak, Luiz Gustavo Porfírio ainda está fazendo palestras e tem um blog: um brasileiro no Egito, em que conta os dias que antecederam a queda e a festa do povo na Praça Tahir, no Cairo, capital do Egito. Foi pela palestra dele que vim a saber que o exército egípcio era muito menos agressivo que a polícia egípcia; essa sim sanguinolenta.
Na Líbia, a situação está muito mais violenta. E o número de mortos nos diz que distintamente do Egito, em Tripoli (capital líbia) a situação irá até o limite. O povo seguindo o exemplo dos egípcios parece ter percebido a grandeza de sua força e o momento propício para retirar do poder não somente Kadhafi, mas o regime ditatorial que perdura há 42 anos.
Aqui, torcemos pela vitória do povo contra a opressão e a exploração.
Para quem quiser ver trechos da palestra que aconteceu no dia 17 de fevereiro em São Paulo, basta clicar aqui.
É isso.
Gislene Bosnich

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

São Paulo vive caos cultural




Por mais que os veículos de imprensa da grande mídia dediquem páginas e páginas a elogiar a pseudo "reurbanização" do centro e sua valorização, tudo não passa de pura especulação imobiliária traduzida em destruição de prédios, ora porque são reduto de crackeiros, ora porque destoam da paisagem do entorno (caso do treme-treme do Parque Dom Pedro, que está vindo abaixo e nada garante que o sucessor seja esteticamente melhor).
A gestão do Prefeito Gilberto Kassab é um verdadeiro terror e representa o desmonte de uma política pública que bem ou mal, na área da cultura, era consistente e mais democrática na gestão da Prefeita Marta Suplicy (Que fique claro que esta que escreve votou nulo quando de sua candidatura à reeleição). Mas a verdade tem que ser escrita.
O bairro da Luz não está se transformando numa Nova Luz, mas num novo espaço de especulação imobiliária, que pode até oferecer mais um equipamento cultural enquanto satisfaz o desejo de incorporadoras ávidas por território valorizado com a infra-estrutura que só o centro da cidade possui. O que também evidencia outro problema. São Paulo não investiu nada em transporte coletivo. Ao contrário, minou as alternativas de qualidade e não desenvolveu os corredores expressos tão necessários a uma melhor fluidez.
Preste a completar 100 anos, o Teatro Municipal (foto à direita) está fechado há quase três anos inteiros. Visitando o site da Prefeitura, há um aviso pedindo para uma aguardando reinauguração; ocorre que os 100 anos se completam em fevereiro. Assim ocorre e ocorreu com outros equipamentos de extrema importância na vida cultural da megalópole: permaneceram fechados. Portanto, verba de manuntenção economizada travestida de modernização. Em relação à Biblioteca Mário de Andrade, toda gestão municipal, desde Luiza Erundina (1989-1992), faz algum investimento de modernização (Talvez a exceção seja o ex-Prefeito Paulo Maluf), mas nenhum foi tão logo e manteve por tanto tempo fechado um patrimônio cultural da cidade. Há a biblioteca do Centro Cultural Vergueiro, mas se estamos discutindo a cidade de São Paulo, é óbvio que o acervo é diminuto. Aí não dá para dizer que o povo não lê e não tem interesse. Não há como. Sem contar que a quantidade de bibliotecas nos bairros também está longe de uma realidade possível, sequer menciono próxima ao ideal.
Outro problema é que a Biblioteca para sua reinauguração organizou um ciclo de palestras sobre os povos que influenciaram a sociabilidade e forjaram o perfil da cidade. A primeira palestra era sobre a influência do povo árabe. (Coindicidência com a relevância do que acontece no Egito). Havia 170 lugares. Vejam só. Não se trata de uma biblioteca de bairro, mas de uma biblioteca que é a segunda maior do Brasil (a primeira é a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, fundada por Dom João VI). Isso é ultraje! Então, houve uma reforma e não houve organização para se prever um público maior ou então a substituição da sala por outro maior dado o interesse? Fica a incógnita. E o desdém, não do pessoal da Biblioteca, mas de quem organiza um evento desses. Aí tem-se que implorar por uma poltrona. É deprimente. É quase humilhante como fila de liquidação de magazine.
Assim, durante os seis anos em que ficará à frente da Prefeitura de São Paulo, o Prefeito Gilberto Kassab manteve boa parte dos grande equipamentos públicos culturais fechados. Promove, herança dos dois primeiros anos de José Serra, a Virada Cultural, que é uma maneira de dizer que está havendo uma política pública real na capital. 24 horas de destruição do centro da cidade, que cheira a urina e tem seus poucos jardins pisoteados pela classe média que usa a região como vaso sanitário. Essa ideia não é minha, mas sim de um cronista, que não me recordo o nome, sobre como amanhece o centro após a Virada.
Para quem mora no centro exatamente por poder usufruir destes locais é complicadíssimo, mas é um deserespeito aos paulistanos que realmente querem ter tudo isso a disposição sem ter que pedir por favor.
É isso.
Gislene Bosnich

Contra a barbárie

Público-alvo: adolescentes
Motivar, impulsionar, levar à reflexão, levar à transformação consciente, coletivo sem anular o indivíduo.
O blog está disposto da seguinte maneira. Na coluna à esquerda estão disponíveis textos gerais, alinhados por série.
Também há slides de fotos de espaços culturais registradas por mim e sites sobre educação e saúde.
Já na coluna central estão as postagens. Postagens são mensagens que escrevo e envio sobre algum assunto atual e não necessariamente relacionado ao que estamos estudando. Todas as postagens podem ser comentadas, basta clicar em comentários. Aí você escreve sua opinião.
As postagens antigas estão alinhadas na coluna da esquerda. Por exemplo, o blog começou dia 30 de abril de 2008. Basta ir até arquivo do blog e procurar o mês e a data.
Voltando... na coluna central também há vários links que informam sobre possibilidade de consulta para estudo. São sites idôneos de entidades, em geral, públicas ou reconhecidas pela seriedade. Também há outro conjunto de links que agrupam espaço culturais.
Para os professores, o site dispõe de um link (sala dos professores) com textos sobre educação veiculados na mídia eletrônica, e também um canal de contato; o e-mail: contraabarbarie@gmail.com

Gislene Bosnich

Joe Sacco: o quadrinista com veia de historiador

(Restrito aos estudantes da EMEF Jackson de Figueiredo. Qual a programação de TV a que você assiste? (clique em apenas uma alternativa)

Simpsons - Bart e o Transtorno do Déficit de Atenção

Enquanto é possível... aproveite a vida.

A verdadeira história da bulímina e da anorexia

Gruipe Suína - Animação instrutiva

Melhores imagens (Destinado aos alunos)

Se você gosta de fotografar a cidade de São Paulo, envie sua foto para contraabarbarie@gmail.com ; ela pode figurar no blog.
Não valem imagens de pessoas com close no rosto. Mas se for multidão, tudo bem. A idéia é divulgar a cidade e uma forma diferenciada de enxergá-la. Procure inovar os ângulos de ver São Paulo.
Participe!
Gislene Bosnich

Concurso para os alunos

Concurso para os alunos
Qual o nome desta famosa praça? E qual famoso episódio teve início nela? (envie um e-mail contendo a resposta para contraabarbarie@blogspot.com)

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O Analfabeto Político - Bertolt Brecht

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, a criança abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.
Nada é impossível de Mudar. Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.
Privatizado. Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário. E agora não contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence.

Uma chance à Humanidade

Ser trabalhador nunca foi fácil. Ser mulher trabalhadora então ainda é mais complicado.
Este blog é uma maneira de não desistir de procurar formar trabalhadores críticos e que vão buscar transformar este mundo numa sociedade sem classes, sem exploração em que cada ser humano possa desempenhar o que desejar sem que isso signifique um crime.
Gislene Bosnich