Por mais que os veículos de imprensa da grande mídia dediquem páginas e páginas a elogiar a pseudo "reurbanização" do centro e sua valorização, tudo não passa de pura especulação imobiliária traduzida em destruição de prédios, ora porque são reduto de crackeiros, ora porque destoam da paisagem do entorno (caso do treme-treme do Parque Dom Pedro, que está vindo abaixo e nada garante que o sucessor seja esteticamente melhor).
A gestão do Prefeito Gilberto Kassab é um verdadeiro terror e representa o desmonte de uma política pública que bem ou mal, na área da cultura, era consistente e mais democrática na gestão da Prefeita Marta Suplicy (Que fique claro que esta que escreve votou nulo quando de sua candidatura à reeleição). Mas a verdade tem que ser escrita.
O bairro da Luz não está se transformando numa Nova Luz, mas num novo espaço de especulação imobiliária, que pode até oferecer mais um equipamento cultural enquanto satisfaz o desejo de incorporadoras ávidas por território valorizado com a infra-estrutura que só o centro da cidade possui. O que também evidencia outro problema. São Paulo não investiu nada em transporte coletivo. Ao contrário, minou as alternativas de qualidade e não desenvolveu os corredores expressos tão necessários a uma melhor fluidez.Preste a completar 100 anos, o Teatro Municipal (foto à direita) está fechado há quase três anos inteiros. Visitando o site da Prefeitura, há um aviso pedindo para uma aguardando reinauguração; ocorre que os 100 anos se completam em fevereiro. Assim ocorre e ocorreu com outros equipamentos de extrema importância na vida cultural da megalópole: permaneceram fechados. Portanto, verba de manuntenção economizada travestida de modernização. Em relação à Biblioteca Mário de Andrade, toda gestão municipal, desde Luiza Erundina (1989-1992), faz algum investimento de modernização (Talvez a exceção seja o ex-Prefeito Paulo Maluf), mas nenhum foi tão logo e manteve por tanto tempo fechado um patrimônio cultural da cidade. Há a biblioteca do Centro Cultural Vergueiro, mas se estamos discutindo a cidade de São Paulo, é óbvio que o acervo é diminuto. Aí não dá para dizer que o povo não lê e não tem interesse. Não há como. Sem contar que a quantidade de bibliotecas nos bairros também está longe de uma realidade possível, sequer menciono próxima ao ideal.
Outro problema é que a Biblioteca para sua reinauguração organizou um ciclo de palestras sobre os povos que influenciaram a sociabilidade e forjaram o perfil da cidade. A primeira palestra era sobre a influência do povo árabe. (Coindicidência com a relevância do que acontece no Egito). Havia 170 lugares. Vejam só. Não se trata de uma biblioteca de bairro, mas de uma biblioteca que é a segunda maior do Brasil (a primeira é a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, fundada por Dom João VI). Isso é ultraje! Então, houve uma reforma e não houve organização para se prever um público maior ou então a substituição da sala por outro maior dado o interesse? Fica a incógnita. E o desdém, não do pessoal da Biblioteca, mas de quem organiza um evento desses. Aí tem-se que implorar por uma poltrona. É deprimente. É quase humilhante como fila de liquidação de magazine.
Assim, durante os seis anos em que ficará à frente da Prefeitura de São Paulo, o Prefeito Gilberto Kassab manteve boa parte dos grande equipamentos públicos culturais fechados. Promove, herança dos dois primeiros anos de José Serra, a Virada Cultural, que é uma maneira de dizer que está havendo uma política pública real na capital. 24 horas de destruição do centro da cidade, que cheira a urina e tem seus poucos jardins pisoteados pela classe média que usa a região como vaso sanitário. Essa ideia não é minha, mas sim de um cronista, que não me recordo o nome, sobre como amanhece o centro após a Virada.
Para quem mora no centro exatamente por poder usufruir destes locais é complicadíssimo, mas é um deserespeito aos paulistanos que realmente querem ter tudo isso a disposição sem ter que pedir por favor.
É isso.
Gislene Bosnich
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