Confira as reivindicações dos trabalhadores que estão em greve no site da categoria.
Ao contrário, o jornalismo fica dia mais rasteiro, e com predisposição a ser cada vez mais amarelo (de baixa qualidade, na gíria jornalística) porque não ouve, não escuta o outro lado, que são os trabalhadores. Não aponta a problemática. Aí escolhe, a dedo, o usuário - que também é um trabalhador - mais desinformado e mais despolitizado para ser "alvo" da matéria jornalística. Chovem pérolas, como se os grevistas fossem vagabundos. Gente preguiçosa. Ninguém que é "ouvido" pode detalhar a qualidade de nosso transporte e, no caso, dos ônibus e trens, a demora, entre um e outro. (Só o metrô não sofre desse problema do tempo de intervalo!)
O metrô, que faço uso todos os dias, é uma maratona. E aos 40 anos, depois de ter vindo morar no centro, cansada de no início da década de 90 participar e amenizar discussões acaloradas nos vagões, vejo-me novamente colocada no horário de pico do retorno. Para evitar problemas, saio mais de uma hora antes para fazer um trajeto que custa-me 15 minutos. E só agora posso fazer isso. Lá em 1991 não poderia escolher. Como muitas vezes também não podem escolher estes trabalhadores. Nem os que precisam trabalhar nem os que fazem greve. Fazer greve é algo sério que envolve muita discussão. Quem faz greve não a faz para dormir até mais tarde. Precisa ter disposição para conversar com seus pares e discutir item a item.
Também não vi nenhuma matéria, em qualquer cobertura: televisiva, eletrônica ou impressa, expressando o caráter de defesa do transporte público contra as Parcerias Público-Privado (como na linha 4 - Amarela do metrô, aquela da cratera de Pinheiros e das sete mortes) ou a privatização pura e simples, como acompanhamos nas telecomunicações, no setor energético e no minério. PPPs ou privatização, que, na verdade, são investimento de dinheiro público para que a iniciativa privada depois financie o lucro. Financiar o lucro é fácil, perto de investir na construção. É mais ou menos assim: O governo constroi a estrada, ou a reforma, instala telefones públicos e de socorro, implanta sinalização para motoristas e pedestres e depois de tudo pronto e pago: a iniciativa privada passa a cobrar pedágio. Isso é parceria? Tem outro nome: é capitalismo. E dos bons. Ou para ser mais ilustrativa! Você tem uma bicicleta e quer vendê-la. Empresta dinheiro para o comprador que lhe dá o dinheiro de volta pela bicicleta sem que você veja nenhum níquel, ou real. E ainda deixou de ser o proprietário da bicicleta. Ou seja, você fez um mal negócio. A privatização é isso. O governo se desfaz de um patrimônio público e a iniciativa privada o ganha, literalmente.
Então, seria no mínimo desrespeitoso fazer uma cobertura tão mal informada a quem a assiste. Mas é muito pior que isso, porque os interesses são obscuros!!! Os jornais (mídia impressa) trazem um pouco mais de informação, mas também não é muito mais. Sabe-se por exemplo que o vale-refeição de um trabalhador da CPTM é de R$ 4,00. Aliás, para todos os funcionários públicos/celetistas que trabalham em empresas do Estado de São Paulo. Acredito que os funcionários de gabinete não recebam o equivalente a esse valor no seu salário, aqueles funcionários que não são concursados. Tudo isso poderia também ser expresso, mas não é. Cabe a nós ter discernimento sobre mais essa greve.
Outro ponto importante de lembrar que ainda, parece-me, não foi abordado pela imprensa é o caráter da greve. Aí saem pérolas. "Esta greve é política", diz o governo. Toda greve é política. A política não é uma bruxa, é algo que faz parte de nossas vidas. E não é de hoje. Basta ler Aristóteles, o macedônio, professor particular de Alexandre, o Grande. Na Antiguidade.
Todos fazemos política. E a fazemos para sobreviver. Mesmo quem diz que não faz política está fazendo, porque não participar é uma maneira de interferir nas relações de poder de um determinado local, nas relações de patrões/trabalhadores, ou mesmo no interior destas relações. Até mesmo, às vezes, nas brincadeiras mais inofensivas, de crianças, é possível reconhecer a política. Não há escolha entre participar ou não. A escolha é de lado. De que lado se vai ficar considerando, lógico, a correlação de forças. Sozinho ou enfraquecidos diante do inimigo...não mudamos nada.
É isso.
Gislene Bosnich
Um comentário:
Gi, às vezes me incomoda a radicalidade e a "conspiratividade" para interpretar algumas coisas e uma condescendência tão grande para com outras...
Não poderiam ser tais greves, no ABC e na CPTM, para ajudar os patrões (público ou privados) justificarem um aumento de tarifa que vai estourar no bolso dos outros trabalhadores?
Que diferença de 3,8 p/ 5, né???
Concordo plenamente: ela precisa ser respeita e COMPREENDIDA, antes do ataque violento ou da defesa irrestrita.
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