Há tanta polêmica sobre a Copa do Mundo no Brasil e suas possíveis cidades-sedes e aberturas aqui ou acolá (parece tudo definido, mas muda a todo o momento) que o mais importante não é lembrado. E não se trata de ausência de memória, apenas da dinâmica do capitalismo mais elementar.
Para sermos coerentes com a trajetória do esporte no país, o jogo de abertura da Copa deveria ser em São Paulo e deveria ser sobretudo num estádio que está calcado nesta tradição do jogo, o Estádio do Pacaembu. Não é à toa que lá funciona o Museu do Futebol, que sem preconceito algum é um acerto muito grande, porque inspira àqueles que nunca iriam a um museu a fazê-lo e quem sabe se motivar a ir a outros. E também porque motiva pessoas como eu, que não estão animadas com o esporte e no que ele se transformou arrastado pelo desenvolvimento do capitalismo, visitarem um espaço que trabalha todas as formas de percepção físicas numa nova perspectiva de estética e apreciação menos estática.
A Praça Charles Müller que fica em frente ao estádio é a homenagem ao paulistando do Brás, filho de brasileira e escocês, da elite da época, que trouxe ao Brasil, a partir de São paulo o jogo que encantaria multidões, e que nem sempre foi essa turbulência de vaidade, dinheiro e patrocínio.
Em 2011 completam-se 116 anos que Charles Müller que o aristocrata, engenheiro de formação e jogador de futebol e depois árbitro por lazer, trouxe o futebol ao Brasil. O primeiro jogo, consta, ocorreu no Brás.
O estádio é pequeno e seria uma forma de homenagear o esporte e o pioneiro em apresentá-lo ao brasileiro. Os ingressos seriam poucos e aí reside o problema. O estádio é seguro e deveríamos parar de creditar ao local maior prestígio que ao espetáculo que ele abriga. O estádio iria ainda fazer aparecer um pouco da cultura indígena tão perdida ao Riacho das pacas, significado do nome Pacaembu.
Parece que a imprensa esqueceu destes detalhes.
É isso.
Gislene Bosnich