Todo sábado, pelo menos, cruzo a Praça da República (região central de São Paulo) em direção ao metrô São Bento. A Praça que está em constante reforma - desta vez por pelo menos seis anos e meio da longa espera pelos benefícios da linha amarela do metrô, que já passou por quatro eleições e ainda não foi nem inaugurada - tem um tapume bem no centro. O tapume encobre o pequeno coreto, memória da primeira metade do século XX. Outros palcos, outras plateias.
O caso é que desde que o Prefeito Gilberto Kassab inventou a anedota de que iria acabar com a cracolândia na base do esguichão, espirrando literalmente os viciados para outros arredores... o centro da Praça da República se transformou na nova cracolândia. E o transeunte desavisado sem mais nem menos está no centro do pito do crackonômanos (com o perdão do neologismo). Há poucos metrôs há uma base comunitária da Polícia Militar que finge não perceber os cachimbos dos garotos, garotas e adultos de todas as faixas etárias. Da primeira vez não cheguei a ver nenhum deles fumando, mas da segunda vez percebi que o antigo copo d´água já foi substituído por utensílio mais versátil e menor. O usuário moderniza sua condição.
Aparentemente há um acordo para que estas pessoas não molestem nem assaltem quem passa pelo local.
Muitas matérias jornalísticas denunciavam através da fala de médicos que a cracolândia não acabaria por decreto e sim com um vigoroso programa de saúde pública, capaz de oferecer oportunidade de tratamento aos viciados... Algo nos moldes do combate ao vírus HIV, o vírus da AIDS. {Ah! é certo que a turma do não-se-pode-gastar-dinheiro-público-com-vagabundo vai gritar mesmo. Não-se-pode-desde-que-não-seja-seu-filho-a-perumbular-pelas-ruas-em-busca-da-pedra. Infelizmente, a sociedade está produzindo este tipo de mesquinharia entre nós. O dinheiro público é para ser gasto com o povo mesmo, em qualquer condição em que ele se encontre. Para opiniões como esta - de quem diz que quem entra nas drogas o faz por opção - deve-se ter muita paciência. É parte da macrodespolitização que o governo e a mídia ajudam a incutir na sociedade}.
Mas o governo Kassab que age segundo o histórico truculento de seu partido que muda muito de nome (ARENA, PFL e DEM), mas mantém a prática, mandou a polícia para cima dos usuários. O problema não se resolveu, apenas se alastrou. Em entrevistas com comandantes de operações, os policiais dizem que agora estão encurralando os traficantes que antes ficavam quase imperceptíveis quando a concentração de pessoas estava no entorno da Luz. Mas novos usuários assim como novos traficantes surgem aos borbotões, há pesquisas que informam sobre o aumento no número de usuários de crack.
Enquanto isso, o Prefeito posa de Senhor da revitalização do centro. Qual revitalização? Moro na Vila Buarque desde 1993, com pequeno interregno, e nunca o centro esteve tão deplorável. Não se trata somente de denunciar a farsa da revitalização. Não há nem lixeiras. E se há "vândalos" (de classe média/média alta que detonam com o patrimônio público) esta desculpa não serve. Pois que se façam lixeiras de concreto. O serviço de varrição parece que pelo centro não recuperou o volume de pessoas ocupadas com esta atividade.
Somos todos amontoados como lixo. Os usuários do crack somam-se ao lixo verdadeiro e ao ratos que brincam de amarelinha na Amaral Gurgel.
Em meio a estas contradições, o Prefeito também se vangloria da cidade ser a única com o Plano de Política Climática. Deve ser para aquecer os ânimos.. que é só o que tem ocorrido até então.
É isso.
Gislene Bosnich
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