
Quem diria, o título da postagem está rendendo mais que deveria, mas do que eu sonharia e mais do que pode suportar um blog que foi criado com o intuito de servir de ferramenta de debate com os alunos sobre a sociedade, desmascarando suas muitas faces - faces medonhas que, por ora, parecem explicitar-se neste ramo obscuro de viés do caráter humano: a hipocrisia.
Não escrevi antes por pura falta de tempo. É preciso descansar o corpo para repor a alma de dignidade e encarar a vida para tentar transformá-la... para melhor. Mas há dias em que a tarefa parece mais penosa. Também não escrevi antes porque simplesmente despejaria nesta tela ofensas dignas aos algozes da jovem mulher de vestido. Não estou transformando-a em vítima, não. Até porque a vítima é a Humanidade mesmo. (Depois voltarei a este aspecto). Aqueles, homens e mulheres, que redesenharam 100 mil anos depois o que pode ter sido a selvageria - estágio anterior da barbárie, que por sua vez precede a civilização - não merecem nenhum respeito. Na selvageria talvez nem tivéssemos estes instintos tão animilizados, e estigmatizados pela cena dos vários celulares. Grotesca cena. Uma turba de selvagens atrás da fêmea no cio? Não, eram humanos. Por isto a metáfora é incabível e de certa maneira uma ofensa a nossos antepassados, uma vez que não se pode concluir tal arbitrariedade da parte deles. Ou não estaríamos aqui para ver e relatar esta cena brutal.
Muitos artigos bons, milhares de comentários carregados de estupidez ainda maior. Mas mesmo entre os artigos bons, há muito moralismo, o falso moralismo. Porque a moral, que é particular, quando existe coerentemente não pode se intrometer na decisão alheia, não este tipo de decisão - sem cair naquela máxima pavorosa do liberalismo: "Minha liberdade começa onde a sua acaba". Não se trata desta cilada infantilóide. Não é sobre isso que escrevo. Se houver tempo, poderia me deter entre tentar distinguir moral de ética. Não aqui nem agora. Num texto longo para figurar nas laterais do blog.
É importante notar que o ocorrido na Uniban de São Bernardo não deixa dúvida sobre o que está correndo com adolescentes e jovens adultos que passaram sua infância vendo e ouvindo o pior da produção lixo musical-visual (Sempre pode piorar) da década de 90e dos anos 2000. Mas não quero parecer, nem sou mesmo, saudosista; lixo cultural não é novidade nem vem de hoje, apenas - é certo - não para de se aprofundar.
Há um misto de repressão sexual com imaturidade absoluta - mais ou menos do tipo: "sou irresponsável porque posso ser" - enquanto muitos comentam que nossos jovens são super bem informados, com a cabeça boa, para discutir assuntos tabus. Balela pura. Estamos retrocendo na desmitificação da sexualidade. Os rapazes disparam suas armas machistas com uma precisão vexatória. Incrível como tão cedo vêm de casa soltando seus petardos de moral machista e caluniosa sobre a pseudo virilidade incontrolável do homem e a sempre previsível submissão feminina. (As garotas, em geral, concordam com absurdos que começam com uma aparente delicadeza, como levar o material dos garotos e fazer suas atividades em grupo. São essas rapazes que depois aparecem trancafiando suas ex-namoradas. Não se enganem, são eles mesmos, que nunca foram detidos em sua perversão de terem tudo que querem!). É de arrepiar até mesmo os conservadores. Estamos recuando em conquistas da década de 60 e 70. E nisso sim a escola deve cumprir um papel de abrir o debate para ouvi-los.
Mas não é só o machismo. Também há pérolas do racismo e da homofobia combinada com o machismo.
Na TV, os comerciais continuam vendendo a velha história da mulher bonita e burra e do homem, senhor do conteúdo, da racionalidade. Vejamos a propaganda da Samsung, a do blu-ray, aparelho que deve substituir o aparelho de DVD (lógica do capital - obsolescência programada).
A Melhor Imagem com o Melhor Som. Aparece uma mulher que abre a boca e entoa um trecho de uma ópera, só que a voz é masculina. Que brilhante!!!. A imagem feminina agrada, mas o conteúdo dignificante, que é o que importa na ópera, é a voz de um tenor ou barítono. Um homem. É o fim! Não, não é. Até a próxima propaganda de cerveja.
Por ser da área de comunicação social, sempre que possível, porque o assunto rende bastante, introduzo algumas observações a respeito dos comerciais de TV. E alerto sobre a indução que sofremos diariamente de maneira subliminar.(Não se trata de abrir um novo assunto aqui, mas que pode ser objeto de outra postagem: as propagandas sobre veículos estão focando as crianças, querem criar o novo público consumidor de carros para a posteridade).
Ontem à noite, Dia Nacional da Consciência Negra, assisti a entrevista com o compositor, jornalista e escritor Nei Lopes, no Sala de Notícias da TV Futura. Um homem objetivo, que disse logo no início: meu novo livro é para combater a importância que estão dando a coisas desimportantes e atacar a mediocridade que grassa na sociedade brasileira. Senti-me aliviada. Pois é possível conhecer, ler, assistir e ouvir a vozes dissonantes da mediocridade, babaquice, mau caratismo, infantilidade e fobias que rondam a Humanidade. Sobre a miséria? Nenhuma palavra. nenhuma matéria. A elite continua ocultando o cadáver.
É isso.
Gislene Bosnich