
Entre os fatos absurdos que nos recusamos a acreditar que passarão despercebidos, figuram na minha última lista a façanha - a única diga-se de passagem - do megacorredor de fórmula 1, Nelsinho Piquet; o suprasumo da tentativa de se converter dinheiro em talento.
Nelsinho Piquet, para se redimir do crime que cometeu ao bater no carro de outro piloto na competição do ano passado, está correndo, agora, nos Estados Unidos. Mas esta não foi a única nem isolada notícia surpreendente. O algoz do sábio piquetzinho , Fernando Alonso, aquele que sabia de tudo, mas não declara nem arrependimento, é embaixador da Unicef. O moço, além da missão grandiosa e até por ela mesma, fez uma visita a uma comunidade carente da zona sul da capital - por ocasião do GP do Brasil em Interlagos.
Que exemplo de criatura... Colocar em risco a vida de duas pessoas apenas para papar mais alguns milhões de dólares em sua já polpuda conta... é de arrepiar o coração dos déspostas. É desse exemplo que as crianças precisam mesmo. Um homem honesto, cheio de brio e índole indelével de tanta pureza de espírito e espírito competitivo.
Em pensar que a cantora Vanusa foi execrada por cantar erroneamente a letra do Hino Nacional. Isso sim é que é imperdoável. Bater no carro de uma pessoa a 200 quilômetros por hora, colocando sua própria vida em risco é parte do esporte e expressa a irracionalidade do capitalismo diante do Deus-lucro-mor-senhor-de-tudo;mais-que-nunca-menos-que-amanhã.
Quando tento explicar aos alunos a gênese da formação do capitalismo em sua sanha de obter lucro nada melhor que os exemplos atuais vindos do esporte, cada vez mais prostituído. Primeiro o futebol, depois, o atletismo, a natação, e faltava mesmo um exemplo dilacerante da Fórmula 1 para aqueles que não haviam se contentado com a estúpida morte de Senna ter sido provocada por uma mísera barra de volante que deixou de ser trocada.
Quando Vanusa encontra Nelsinho Piquet na curva, tudo pode acontecer, mesmo não sendo as curvas da Estrada de Santos com seus pedágios privatizados.
É preciso recuperar o bom senso. É preciso desmascarar a hipocrisia popular e erudita. E construir novas gerações com dignidade que se pratica (e se ensina).
Gislene Bosnich
Nenhum comentário:
Postar um comentário