
Isso mesmo. Esses são os valores que o governador de São Paulo, José Serra vai destinar às vítimas das enchentes. É um valor ridículo. Já se sabe que só São Luiz do Paraitinga precisa de 100 milhões de reais para se recuperar. Mas o placar é mesmo contraditório. Afinal, no final de 2008, na crista da crise, em outubro, Serra doou 4 bilhões às montadoras do ABC Paulista, que, pobrezinhas, poderiam ter dificuldades. Lula não se fez de rogado também e foi quem puxou o cordão de doações. A contrapartida já é conhecida: demissões e vendas absurdas de veículos, recordes fantásticos, empurradas pela isenção de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). Mais automóveis, mais poluição, mais gasto com saúde pública.
É uma falta de vergonha na cara que ninguém da grande imprensa ainda questionou. Vidas, patrimônio histórico, infra-estrutura vão literalmente por água abaixo e o governo oferece uma gorjeta para remendar a parede que ficou em pé.. Mas o governador anunciou ontem, pela TV, em uma de suas caravanas venturosas por São Luiz que vai construir casinhas da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano). (A assessoria de imprensa deve ter dito que pegavam mal não comparecer ao local do crime, então, agora, todo dia o governador aparece) Quem é adulto sabe a dimensão destas casas. São minúsculas e não substituem o esforço que cada um destes desabrigados teve para construir a sua própria ao longo de anos. Parece que basta uma casa nova e pequena, que vai levar uma nova vida para ser paga, para compensar todas as perdas. Todo o sofrimento é minimizado ou mesmo desconsiderado em troca de favores como dormir nas quadras das escolas cujos espaços existem apenas em função das férias escolares. Se a tragédia fosse em outubro onde tais pessoas seriam alojadas. É um improviso secular.
Como o rio subiu mais de 10 metros ninguém pode dizer que as casas estavam em região de risco nem que a ponte de Agudos, município do Rio Grande do Sul ou a de Bofete, no interior de São Paulo, não foram construídas adequadamente. Ocorre que com todo dinheiro de impostos que pagamos, e somos nós que o pagamos, não há nem construção nem manutenção dos equipamentos públicos. É este o verdadeiro tema do debate. Ao invés de ficarmos discutindo se a Pousada Sankay tinha ou não licença ambiental. Tê-la impediria a tragédia?. Havia dois alvarás que sustentavam a presença da pousada. E que licença seria essa, já que o próprio governo do Estado autorizou a ampliação de construção nas encontas em junho?
De mais a mais que má fé pode haver se os proprietários da pousada perderam a filha? Quem garante também que a licença ambiental não teria sido obtida lícita ou ilicitamente?
Vamos refletir e denunciar a ação do governo, da imprensa e dos oportunistas que ficaram fora destes dois grupos, e agir para combater novas más notícias de ano novo, de meio ou final de ano. É isso.
Gislene Bosnich