Eis que zapeando (ou seja, passando com o controle remoto por algumas emissoras de TV), deparo-me com Marcos Mion, questionando uma figura feminina, do tipo modelo-manequim-atriz, se ela preferia ter caca no nariz ou mau hálito. Diante de tão importante questionamento, que faz todos os mortais travarem consigo mesmos um embate moral do mais alto calibre - perdoem-me, a ironia não me abandona – fiquei perplexa e titubeei na mudança de canal. Queria aguardar a resposta que mudaria toda a minha vida. Eu já havia perdido 10 preciosos segundos. Não me custaria tanto assim aguardar mais 10.
Um balanço de cabeça para lá, outro para cá. E a figura feminina, do tipo modelo-manequim-atriz, dispara: o mau hálito. O apresentador, em um momento pleno de sensatez, dialoga: “Mas justo o mau hálito?”. E continua: “A caquinha sai, mas o mau hálito é mais difícil”.
E a imagem? A imagem, a aparência? A beleza artificial da boneca branca de cabelo liso com rosto rosado? Imagine ter esta imagem destruída por uma caquinha.
No fundo, a modelo-manequim-atriz foi absolutamente coerente. Ela pensa naquilo que lhe convém. Na imagem. A caquinha de nariz faz todo a diferença. Mau hálito? Mau hálito não aparece na câmera. Nem na foto. Nem em caras e bocas. Nem em revista alguma.
E os nossos adolescentes e os jovens adultos? Estão embarcando cegos neste paradigma? Norteiam-se por esta mesma ‘coerência’? Há lugar para a inteligência neste mundo? A sensibilidade, o humano? Ou só para a aparência oca da ausência de caquinha no nariz?
É preciso retomar o debate sobre o que se pretende com essa insensata busca pelo belo, que afinal nem é belo. O esquálido não é belo, o cabelo liso parece uma ditadura. E todos os outros padrões que se construíram na última década e meia. Incluindo a moral que há por trás deles. Pelos que são retirados à morte e que depois retomam como tatuagem. Anos fazendo a sobrancelha para depois esticá-la com lápis ou tatuagem permanente. Todas as marcas são apagadas, e as que se veem são postiças. Menos uma: a da ignorância em todo dia tentarmos desenfreadamente apagarmos quem somos. Vai uma caquinha no nariz ou um pouco de mau hálito? A inteligência está sendo banida. Cuidado!!!
Gislene Bosnich, texto
Imagem extraída do site: http://www.vejaisso.com/ (apenas extrai a imagem, não me responsabilizo pelo conteúdo deste site)